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Devo impor limite de alterações?

Atualizado: 7 de mar.

O tatuador que se apresenta como artista autoral, se propõe a criar artes originais e exclusivas para seus clientes. Cada projeto é uma nova criação e exige um processo de condução do atendimento para que se evite certos problemas.


Com o tempo você vai conhecendo as principais armadilhas, ficando mais atendo e fluente nessa condução. Mas entender a ideia, o conceito do cliente e combinar que elementos vão estar representados na arte é só o primeiro passo. É preciso alinhar uma série de expectativas de ambos os lados para reduzir a chance de surpresas indesejadas, como por exemplo o cliente não gostar nem um pouco da arte que você apresentar pra ele.


O cliente precisa estar ciente e de acordo com a abordagem estética que você pretende seguir.


A melhor forma pra isso é apresentar referências que sigam uma linguagem parecida.


Pode ser de outros trabalhos seus no mesmo estilo ou trabalhos de outros tatuadores que tenham uma abordagem próxima à que você pretende fazer. Dar a devida atenção à essa parte preliminar do processo já é meio caminho andado pra evitar surpresas e muitos pedidos de alteração.


Outra coisa que ajuda muito é criar vários "checkpoints" de aprovação.

Ou seja, não deixar pra apresentar apenas a arte finalizada. Você pode por exemplo apresentar o esboço de lápis pro cliente aprovar a composição dos elementos no espaço, o traço dos personagens ou objetos etc.


Se ele pedir pra alterar por exemplo algum detalhe de composição vai ser muito menos traumático de fazer, do que se a arte já estivesse pronta.



Depois você pode também apresentar o concept art com um estudo rápido do uso das sombras e do uso das cores. O cliente aqui ja vai ter uma ideia melhor de como a arte final vai ficar e pode ser que não goste do uso de alguma cor por exemplo. Pelo menos você ainda não terá gastado tempo e energia fazendo um acabamento perfeito. Isso faz também com que ele ja saiba o que esperar da versão final, que não fique às cegas, não seja uma surpresa.


Agora, é preciso ter em mente duas coisas:

1. Alteração faz parte.

E dependendo do perfil - e da índole - do cliente, isso pode ser uma dor de cabeça.


Alguns clientes dão mais valor ao estilo autoral e ao conhecimento técnico do artista, outros são mais controladores e acham que sabem mais do que você como vai ficar bom.


Mas em geral, na grande maioria das vezes, quando você faz um bom trabalho de condução, tem poucas surpresar.


Quando rola um pedido de alteração, é um detalhe pequeno. Uma escolha de cor, por questão de gosto pessoal, um acabamento etc.


2. O cliente precisa estar confortável.

Se você restringe o número de alterações, o primeiro efeito que isso gera é uma insegurança: "se eu não gostar e já tiver esgotado o limite de alterações eu vou ter que tatuar como tá?"


E você não quer isso porque pode ser uma barreira enorme na hora de fechar com você.

Ou pior: pode gerar uma desistência DEPOIS que você já teve o trabalho de fazer a arte, ao se frustrar caso tenha "esgotado" o número de alterações e ainda não esteja curtindo.

Eu faço o contrário:


Eu deixo o cliente tranquilo com a ideia de que ele só vai tatuar quando chegarmos numa arte que ele esteja 100% confortável em tatuar.

Digo que vou apresentar a arte com antecedência para ele aprovar e que se não curtir algum detalhe, podemos alterar até ficar no gosto dele.

Na grande maioria das vezes, é aprovado de primeira por causa da condução que eu expliquei lá no inicio. Porque se ele não curtiu algo eu ja identifiquei no rascunho ou no concept e ja solucionei.

Algumas vezes, preciso mudar um detalhe ou outro que ele não havia conseguido visualizar na aprovação do concept, ou que não curtiu na arte final.


Raramente acontece do cliente não gostar da arte como um todo. Quando acontece geralmente foi minha culpa, por ter dado pouca atenção no atendimento inicial.


Quando acontece, eu me proponho a criar uma arte nova do zero com uma nova abordagem.


Converso bem pra entender qual foi o ruido na comunicação e na expectativa e garantir que não aconteça de novo. Aqui é importante também reforçar o que você NÃO está disposto a fazer ou o que NÃO tem a ver com o seu trabalho.


E ai, o normal é que não passe da segunda tentativa.


Porque na primeira você já ligou o "alerta" na cabeça e teve uma boa conversa, cheia de referências trocadas, afim de fazer a segunda totalmente seguro que vai estar de acordo com o que o seu cliente espera, e do que ele também saiba o que esperar de você.


Até hoje eu consigo contar nas mãos os poucos casos em que eu precisei refazer a arte o zero mais de 1x.


Agora, se você tiver todos esses cuidados e mesmo assim entrar naquele looping de pedir infintas alteraçõezinhas ou mesmo de pedir pra refazer varias vezes e não ficar satisfeito, normalmente é sinal de problema.


Nesses casos você deve ponderar se vale a pena fazer mesmo o trabalho. Lembre-se de que você não é obrigado a se sujeitar a tudo que o cliente pede e tem total liberdade pra falar numa boa com ele:


"Talvez eu não seja o artista certo pra fazer o tipo de arte que você quer, espero que não se chateie".

Já aconteceu algumas vezes de eu propor, de forma educada, que a gente desista do projeto porque não está rolando.


Quando é assim, claro que eu devolvo o sinal e peço desculpas por não ser capaz de atender ele.


A verdade é que isso serve de filtro. Tem dores de cabeça que não valem a pena.



2 comentários


Lorranye Braga
13 de out. de 2022

Adorei as dicas. Pra mim fez total sentido!

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Raom Tattoo
Raom Tattoo
14 de out. de 2022
Respondendo a

Que bom que foram úteis!

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